Francis Hime
Compositor, cantor, pianista, arranjador e maestro.
Representante da melhor geração de compositores surgida no Brasil, desde o fim da década de 1920 (quando foram lançados os jovens Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, João de Barro, Ismael Silva e tantos outros), Francis Hime assumiu o papel de um dos principais protagonistas da música popular brasileira a partir da primeira metade dos anos 60. Seria impossível escrever a história da música brasileira nas últimas décadas sem dar a Francis Hime um destaque muito especial. No mapa da MPB, todos os afluentes confluem para o talento estuário de Francis Hime.
Tom Jobim é um piano, Caymmi um violão, Vinicius, uma caneta, Noel, um terno branco. Por analogia, Francis Hime é uma orquestra. E uma orquestra sinfônica. Não uma sinfônica convencional, apoiada exclusivamente nas cordas, madeiras e gravatas, mas uma formação enriquecida por metais de gafieira, cavaquinhos de chorões e tamborins de escola de samba. Se a música do Rio é uma fusão – a música de todos os Brasis confluindo para um estúdio onde as águas se misturam e ganham ritmo e densidade – , Francis é a personificação dessa fusão. A todos estes ritmos brasileiros, Francis empresta seu inspirado refinamento e deles toma emprestado a vitalidade e a beleza. Atenção: essas não são palavras vazias. Como Francis Hime (agora que já não temos Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, Tom Jobim e Luizinho Eça), estamos diante de um compositor cujo domínio da técnica permite vôos de asa-delta – ou de orquestra – à criação.
Francis Hime estudou piano desde os 6 anos de idade, no Conservatório Brasileiro de Música.Em 1963, começa a sua parceria com Vinicius de Moraes, com quem compôs inúmeras canções, tais como: “Sem mais adeus, “Anoiteceu”, “A dor a mais”, “Tereza sabe sambar” e outras. Nessa época, começa também a compor com Ruy Guerra canções como “Minha” (gravada por Elis Regina, Tony Bennett, Bill Evans e muitos outros), “Último canto”, “Por um amor maior” e outras. Participou de vários festivais de música nos anos 60, quando suas canções foram cantadas por Elis Regina, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, MPB-4 e outros.Em 1969, foi para os Estados Unidos, onde ficou 4 anos estudando composição, orquestração e trilhas para filme com Lalo Schifrin, David Raksin, Paul Glass, Albert Harris e Hugo Friedhopfer. De volta ao Rio, em 1973, grava seu primeiro disco para a Odeon. Nessa época, sempre escrevendo a música, ele começa a compor com Chico Buarque grandes sucessos, tais como: “Atrás da porta”, “Trocando em miúdos”, “Meu caro amigo”, “Pivete”, “Passaredo”, “Amor barato”, “A noiva da cidade”, “Embarcação”, “Vai Passar”.Em 1973, começa a compor trilhas para filmes, tais como: “A estrela sobe”, “Dona Flor e seus maridos”, ambos dirigidos por Bruno Barreto, “O homem célebre”, “República dos assassinos”, ambos dirigidos por Miguel Faria, “A noiva da cidade” de Alex Vianny, “Marília e Marina” de Luis Fernando Goulart, “O homem que comprou o mundo”, de Eduardo Coutinho, “Marcados para viver”, de Maria do Rosário, “Lição de amor”, de Eduardo Escorel. Duas dessas trilhas foram premiadas no Festival de cinema de Gramado e no Coruja de Ouro, como melhor trilha do ano.
No teatro, Francis escreveu trilhas para: “Dura lex sed lex no cabelo só Gumex” de Oduvaldo Vianna Filho, “O rei de Ramos”, de Dias Gomes, “A menina e o vento”, de Maria Clara Machado, “Belas figuras” de Ziraldo, “Foi bom, meu bem”, de Alberto Abreu, “O banquete”, de Mario de Andrade, “Pinoquio” de A. Collodi, “Tá ruço no açougue”, do grupo Tem folga na direção, “Na sauna”, de Nell Dunn, e “Love letters”, de A. R. Gurney. Conhecido como um dos mais talentosos compositores do Brasil, Francis é especialmente dotado por uma versatilidade em compor sobre vários ritmos brasileiros, escrevendo sambas, frevos, modinhas, calangos, choros, etc. Para este repertório eclético, Francis conta com um não menos eclético e talentoso grupo de parceiros escrevendo letras para suas canções, tais como: Geraldo Carneiro, Milton Nascimento, Olivia Hime, Gilberto Gil, Paulo César Pinheiro, Cacaso, Capinam, Adriana Calcanhoto, Paulinho da Viola, Lenine, Joyce, Moraes Moreira, Georges Moustaki, Livingston & Evans, Sergio Bardotti (além dos já citados Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Ruy Guerra). Ele também musicou poemas de Fernando Pessoa, Manoel Bandeira, Castro Alves. Como arranjador, Francis trabalhou para Milton Nascimento, Gilberto Gil, Gal Costa, Georges Moustaki, Caetano Veloso, Clara Nunes, Toquinho, Elba Ramalho, Vania Bastos, Fafá de Belém, Olivia Hime, MPB-4 e Chico Buarque (para o qual, ele fez a direção musical de 4 discos).Como compositor, suas canções foram gravadas por Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Ivan Lins, Djavan, Tony Bennett, Bill Evans, Kenny Burrel, Lany Hall, João Bosco, Lenine, Beth Carvalho, Nara Leão, Elizete Cardoso, Ângela Maria, Luis Eça, Toquinho, Zélia Duncan, Olivia Hime, Daniela Mercury, Simone, Nana Caymmi, Wandá Sá, Joyce, Adriana Calcanhoto, Paulinho da Viola, Fafá de Belém, MPB-4, Georges Moustaki.
A partir dos anos 80, Francis começou também a escrever peças eruditas. Em 1986, escreveu a sua Sinfonia n°1, apresentada em São Paulo e Campinas com a Orquestra Sinfônica de Campinas regida por Benito Juarez, e em Recife, com a Orquestra Sinfônica de Pernambuco regida por Osman Gióia. Em 1993 o próprio Francis regeu essa sinfonia, à frente da OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira). Em 1988, Francis compôs “Carnavais para coro mixto e orquestra”, a partir de um poema especialmente escrito por Geraldo Carneiro, tendo sido a peça apresentada com a Orquestra Sinfônica de Campinas e CORALUSP regidos por Benito Juarez. Em 1997, Francis escreveu a partitura sinfônica de “Terra Encantada”. Em 2000, compôs a Sinfonia de Rio do Janeiro de São Sebastião, em 5 movimentos (Lundú, Modinha, Choro, Samba, Canção brasileira), com textos de Geraldo Carneiro e Paulo César Pinheiro. A estréia da sinfonia deu-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo como solistas Lenine, Leila Pinheiro, Olivia Hime, Zé Renato e Sérgio Santos, com Francis regendo a orquestra sinfônica, num espetáculo dirigido por Flavio Marinho. Francis regeu esta sinfonia em duas outras ocasiões: em 2002, na Praia de Copacabana, para um público de mais de 20.000 pessoas, e na UNESCO, em Paris, encerrando as festividades do ano França-Brasil de 2005.
Em 2001, Francis escreveu “Fantasia para piano e orquestra”, que apresentou como solista – no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a orquestra Pró-Música sob a regência de Roberto Tibiriçá. Em 2007 Francis compôs o Concerto para violão e orquestra em três movimentos, dedicado a Rafael Rabello, que teve a sua “première” em Maio de 2008, na sala São Paulo, tocado por Fabio Zanon, com a OSESP sob a regência de Alondra de la Parra. Já em 2008, Francis concluiu também a partitura da “Ópera do Futebol”, ópera em 4 atos, com “libretto” de Silvana Gontijo, ainda inédita. Francis escreveu, em 2011, um concerto para harpa e orquestra em três movimentos, também inédito.
No campo da música popular, Francis lançou em Agosto de 2007 um novo CD/DVD, “Francis Hime Ao Vivo”, pela gravadora Biscoito Fino. Em julho de 2007, se apresentou no Festival de Montreux juntamente com Maria Bethânia. No mesmo ano, circulou com o show “AlmaMúsica”, primeiro de sua carreira em parceria com Olivia Hime, sua parceira de vida há 47 anos. Este trabalho gerou o CD de estúdio e o CD e DVD ao vivo, gravados em São Paulo em 2012. Seu trabalho seguinte, “Francis e Guinga”, CD em parceria com o compositor Guinga, foi lançado em 2013 pela Biscoito Fino. No ano de 2014, Francis lançou pelo selo SESC o CD “Navega Ilumina” em comemoração aos seus cinquenta anos de carreira. Trata-se de um CD de músicas inéditas em parceria com Geraldo Carneiro, Olivia Hime, Thiago Amud, Joana Hime, e uma letra antiga e inédita de Vinicius de Moraes que Francis achou em seus guardados, Maria da Luz. Em 2015, lançou pela gravadora Biscoito Fino o CD e DVD “Francis Hime 50 Anos de Música”, e atualmente está escrevendo um concerto em três movimentos para clarinete e orquestra.
Discografia:
1. Os seis em ponto – 1964 ( RGE )
2. Francis Hime – 1973 ( ODEON )
3. Passaredo – 1977 ( Som Livre )
4. Se porém fosse portanto – 1978 ( Som Livre )
5. Francis – 1980 ( Som Livre )
6. Sonho de moço – 1981 ( Som Livre )
7. Os 4 mineiros – 1981 ( Som Livre )
8. Pau Brasil – 1982 ( Som Livre )
9. Essas parcerias – 1984 ( Som Livre )
10. Clareando – 1985 ( Som Livre )
11. Choro rasgado – 1997 ( Universal )
12. Meus caros pianistas – 2001 ( Biscoito Fino )
13. Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião (cd / dvd) – 2001 ( Biscoito Fino )
14. Brasil lua cheia (cd / dvd) – 2003 ( Biscoito Fino )
15. Álbum musical – 2004 ( Biscoito Fino )
16. Arquitetura da flor – 2006 ( Biscoito Fino )
17. Francis Hime – ao vivo (cd / dvd) – 2007 (Biscoito Fino)
18. Álbum Musical 2 – 2008 (Biscoito Fino)
19. O Tempo das Palavras / Imagem (Double CD) – 2009 (Biscoito Fino)
20. O Tempo das Palavras Ao Vivo (CD/DVD) – 2009 (Biscoito Fino)
21. Concerto Para Violão e Orquestra – 2011 (Biscoito Fino e Osesp)
22. AlmaMúsica – 2012 (Biscoito Fino)
23. AlmaMúsica Ao Vivo (cd/dvd) – 2012 (Biscoito Fino)
24. Navega Ilumina – 2014 (SESC SP)
25. Francis Hime – 50 Anos de Música (cd/dvd) – 2015 (Biscoito Fino)
Prêmios:
1975 – Coruja de Ouro ( Melhor trilha de cinema do ano )
para “Lição de amor”, de Eduardo Escorel. 1975 – Kikito ( Melhor trilha de cinema do Festival de Gramado )
para “Lição de amor” de Eduardo Escorel . 1976 – Coruja de Ouro ( Melhor trilha de cinema do ano )
para “Dona Flor e seus dois maridos” de Bruno Barreto.
1997 – Melhor disco do ano pelo “O Globo”
para “Choro rasgado”.
2003 – Melhor disco do ano pelo “Universo Musical”
para “Brasil lua cheia”
2006 – Indicação para Grammy para melhor canção brasileira do ano,
por “Canção transparente”, com letra de Olivia Hime
2012 – Indicação ao Grammy como melhor album de música instrumental por Concerto para Violão e Orquestra
2015 – Melhor Arranjador pelo “Prêmio da Música Brasileira” para “Navega Ilumina”